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sexta-feira, 11 de março de 2011

Fitoterapia em destaque

O potencial da biodiversidade brasileira é uma oportunidade de negócios para a fitoterapia. Expectativa da indústria é que este mercado registre R$ 1 bilhão em 2011

Os fitoterápicos e plantas medicinais são hoje as classes de produtos que possuem maior potencial de crescimento no Brasil devido a sua biodiversidade, mas a adesão aos pro­dutos ainda está abaixo do esperado.

Na Europa, por exemplo, a admi­nistração de fitoterápicos é significa­tivamente maior que no Brasil. Cerca de 60% dos médicos alemães prescre­vem esses medicamentos à população. Já nos Estados Unidos, são categori­zados como suplementos alimentares e não podem ter indicação terapêu­tica. “No Brasil, eles são registrados como medicamentos, obedecendo a todas as exigências e regulamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, (Anvisa), como os de Boas Práticas de Fabricação e Controle e Farmacovigilância”, conta o coorde­nador técnico da Associação dos La­boratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Douglas Duarte. Segundo o especialista, a fitoterapia é uma ciência como todas as outras, com especialistas que dedicam seu tempo e em alguns casos a vida inteira para pesquisar e desenvolver fórmulas es­pecíficas. “As substâncias contidas em fitoterápicos são bioquimicamente elaboradas, o que impossibilita que a maioria delas seja sintetizada em plantas fabris, e que possuem atuação nos organismos de forma muito mais complexa”, diz. Duarte afirma ainda que utilizar medicamentos fitoterá­picos aumenta o potencial de novas formas de combater doenças que hoje não possuem tratamento, assim como amplia o leque de opções de tratamentos já existentes.

A produção de medicamentos fi­toterápicos no Brasil está nas mãos da indústria farmacêutica nacional de origem privada, que a todo momento acompanha o desenvolvimento das po­líticas nacionais e identifica os nichos de atuação, direcionando seus recursos para as alternativas mais promissoras.

 Posicionamento do mercado

Dados da Associação Brasileira de Fitoterapia (Abfit) revelam que o mercado de fitoterápicos cresce cerca de 10% ao ano e hoje repre­senta 8% da venda nacional de medicamentos, ante 15% do mer­cado internacional. Em 2008, o mercado era de US$ 550 milhões, no País, e a expectativa da indús­tria é de que esse valor dobre até 2011, chegando a US$ 1 bilhão.
Para o gerente técnico-regulatório da Alanac, Henrique Tada, este é um mer­cado que atua no investimento da con­solidação de marcas e lançamentos de novos produtos para manter portfólio. “A categoria de fitoterápicos tem muito o que desenvolver, visto que esse merca­do compõe menos de 3% do mercado total de medicamentos, e o Brasil tem a segunda maior biodiversidade do mundo, com 22% de todas as plantas, e profissionais qualificados, bem como uma Política Nacional em andamento”, diz. De acordo com o especialista, falta trabalhar mais com informação para o profissional prescritor sobre essa nova opção de tratamento. Douglas Duarte ressalta que a questão do preconceito ainda é um fator limitante para a utili­zação maciça pela população brasileira, pois a classe médica tem restrições de­vido à complexidade de atuação desses produtos quando administrados.

Mas os médicos não são os únicos impedidores do desenvolvimento dessa classe terapêutica; falta melhor aproveitamento também das empre­sas. “O número de patentes brasileiras em produtos fitoterápicos está muito aquém do ideal, e os fatores que mais contribuem para isso são os relaciona­dos aos trâmites de pesquisa e desen­volvimento”, afirma. Tada completa dizendo que a regulamentação atual do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético desestimula a pesquisa, tan­to por parte das empresas como pelas universidades, através de seus pesqui­sadores, pois a morosidade na análise dos processos submetidos a esse Con­selho inviabiliza a continuidade da pesquisa, além de uma série de proble­mas de gestão do conhecimento.

Existem poucos produtos fitoterá­picos totalmente inovadores, mas isso tende a mudar de acordo com o in­vestimento das empresas e incentivos governamentais. “Certamente o mer­cado de fitoterápicos é um tesouro a ser explorado, pois o futuro da indús­tria farmacêutica está na pesquisa e de­senvolvimento de produtos baseados em plantas e na biotecnologia.” A Ala­nac acredita que, para que a evolução aconteça da forma esperada, o gover­no deve ter bom senso e proporcionar às empresas as ferramentas necessárias para que o desenvolvimento desses produtos não traga risco sanitário à população, mas sim novas soluções e melhoria da qualidade de vida.

Quem já faz

O ano de 2010 marcou a entrada definitiva da Aspen Pharma do seg­mento de fitoterápicos, quando foram adquiridas três marcas do laboratório Hebron, o que proporcionou à empre­sa um crescimento de aproximadamen­te 55% maior do que o registrado em 2009. Cinco produtos são responsáveis por 90% das vendas do laboratório.

“O investimento em marketing no ano fiscal estabelecido de julho de 2010 a junho de 2011 será de 8 milhões de reais, revertidos basicamente para a li­nha de fitoterápicos”, revela Alexandre França, diretor comercial e de marke­ting da Aspen Pharma. O executivo comenta que o Brasil tem um mercado pouco explorado, com grandes chances de crescimento.
“As faculdades de Medicina do País não ensinam médicos a utilizarem e prescreverem medicamentos fitoterápi­cos. Hoje, a medicina tradicional é cal­cada apenas em tratamentos alopáticos”, diz. França lembra ainda que no Brasil não existe a cultura do medicamento fitoterápico, que ainda é confundido com o chazinho da vovó e com receitas caseiras. “Em parte, isso se dá pela falta de conhecimento dos varejistas.”

Inovação é a principal tática utilizada pelo laborário Herbarium, do Grupo Farmoquímica. Em setembro de 2010 a empresa apresentou no Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil o PHI (Programa Herbarium de Inovação), que incentiva a pesquisa de plantas da biodiversidade brasileira, em parceria com universidades e centros de pes­quisa. Já no primeiro semestre de 2011 uma nova linha de produtos será lança­da com a assinatura Herbarium.
A gerente de marketing do labo­ratório, Célia Regina von Linsingen, conta que a exposição e o faceamento dos produtos são uma prioridade na gestão do ponto de venda, sobretu­do após a aprovação da RDC 44/09. “Precisamos ajudar o consumidor a selecionar os produtos de seu interesse e isso deve ser administrado pela equi­pe de trade”, diz. Além disso, o Her­barium vê na exportação uma grande oportunidade de negócios. “Não de plantas in natura, mas de produtos tecnologicamente superiores.” (L.F.)

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