O potencial da biodiversidade brasileira é uma oportunidade de negócios para a fitoterapia. Expectativa da indústria é que este mercado registre R$ 1 bilhão em 2011
Os fitoterápicos e plantas medicinais são hoje as classes de produtos que possuem maior potencial de crescimento no Brasil devido a sua biodiversidade, mas a adesão aos produtos ainda está abaixo do esperado.
Na Europa, por exemplo, a administração de fitoterápicos é significativamente maior que no Brasil. Cerca de 60% dos médicos alemães prescrevem esses medicamentos à população. Já nos Estados Unidos, são categorizados como suplementos alimentares e não podem ter indicação terapêutica. “No Brasil, eles são registrados como medicamentos, obedecendo a todas as exigências e regulamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, (Anvisa), como os de Boas Práticas de Fabricação e Controle e Farmacovigilância”, conta o coordenador técnico da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Douglas Duarte. Segundo o especialista, a fitoterapia é uma ciência como todas as outras, com especialistas que dedicam seu tempo e em alguns casos a vida inteira para pesquisar e desenvolver fórmulas específicas. “As substâncias contidas em fitoterápicos são bioquimicamente elaboradas, o que impossibilita que a maioria delas seja sintetizada em plantas fabris, e que possuem atuação nos organismos de forma muito mais complexa”, diz. Duarte afirma ainda que utilizar medicamentos fitoterápicos aumenta o potencial de novas formas de combater doenças que hoje não possuem tratamento, assim como amplia o leque de opções de tratamentos já existentes.
A produção de medicamentos fitoterápicos no Brasil está nas mãos da indústria farmacêutica nacional de origem privada, que a todo momento acompanha o desenvolvimento das políticas nacionais e identifica os nichos de atuação, direcionando seus recursos para as alternativas mais promissoras.
Posicionamento do mercado
Dados da Associação Brasileira de Fitoterapia (Abfit) revelam que o mercado de fitoterápicos cresce cerca de 10% ao ano e hoje representa 8% da venda nacional de medicamentos, ante 15% do mercado internacional. Em 2008, o mercado era de US$ 550 milhões, no País, e a expectativa da indústria é de que esse valor dobre até 2011, chegando a US$ 1 bilhão.
Para o gerente técnico-regulatório da Alanac, Henrique Tada, este é um mercado que atua no investimento da consolidação de marcas e lançamentos de novos produtos para manter portfólio. “A categoria de fitoterápicos tem muito o que desenvolver, visto que esse mercado compõe menos de 3% do mercado total de medicamentos, e o Brasil tem a segunda maior biodiversidade do mundo, com 22% de todas as plantas, e profissionais qualificados, bem como uma Política Nacional em andamento”, diz. De acordo com o especialista, falta trabalhar mais com informação para o profissional prescritor sobre essa nova opção de tratamento. Douglas Duarte ressalta que a questão do preconceito ainda é um fator limitante para a utilização maciça pela população brasileira, pois a classe médica tem restrições devido à complexidade de atuação desses produtos quando administrados.
Mas os médicos não são os únicos impedidores do desenvolvimento dessa classe terapêutica; falta melhor aproveitamento também das empresas. “O número de patentes brasileiras em produtos fitoterápicos está muito aquém do ideal, e os fatores que mais contribuem para isso são os relacionados aos trâmites de pesquisa e desenvolvimento”, afirma. Tada completa dizendo que a regulamentação atual do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético desestimula a pesquisa, tanto por parte das empresas como pelas universidades, através de seus pesquisadores, pois a morosidade na análise dos processos submetidos a esse Conselho inviabiliza a continuidade da pesquisa, além de uma série de problemas de gestão do conhecimento.
Existem poucos produtos fitoterápicos totalmente inovadores, mas isso tende a mudar de acordo com o investimento das empresas e incentivos governamentais. “Certamente o mercado de fitoterápicos é um tesouro a ser explorado, pois o futuro da indústria farmacêutica está na pesquisa e desenvolvimento de produtos baseados em plantas e na biotecnologia.” A Alanac acredita que, para que a evolução aconteça da forma esperada, o governo deve ter bom senso e proporcionar às empresas as ferramentas necessárias para que o desenvolvimento desses produtos não traga risco sanitário à população, mas sim novas soluções e melhoria da qualidade de vida.
Quem já faz
O ano de 2010 marcou a entrada definitiva da Aspen Pharma do segmento de fitoterápicos, quando foram adquiridas três marcas do laboratório Hebron, o que proporcionou à empresa um crescimento de aproximadamente 55% maior do que o registrado em 2009. Cinco produtos são responsáveis por 90% das vendas do laboratório.
“O investimento em marketing no ano fiscal estabelecido de julho de 2010 a junho de 2011 será de 8 milhões de reais, revertidos basicamente para a linha de fitoterápicos”, revela Alexandre França, diretor comercial e de marketing da Aspen Pharma. O executivo comenta que o Brasil tem um mercado pouco explorado, com grandes chances de crescimento.
“As faculdades de Medicina do País não ensinam médicos a utilizarem e prescreverem medicamentos fitoterápicos. Hoje, a medicina tradicional é calcada apenas em tratamentos alopáticos”, diz. França lembra ainda que no Brasil não existe a cultura do medicamento fitoterápico, que ainda é confundido com o chazinho da vovó e com receitas caseiras. “Em parte, isso se dá pela falta de conhecimento dos varejistas.”
Inovação é a principal tática utilizada pelo laborário Herbarium, do Grupo Farmoquímica. Em setembro de 2010 a empresa apresentou no Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil o PHI (Programa Herbarium de Inovação), que incentiva a pesquisa de plantas da biodiversidade brasileira, em parceria com universidades e centros de pesquisa. Já no primeiro semestre de 2011 uma nova linha de produtos será lançada com a assinatura Herbarium.
A gerente de marketing do laboratório, Célia Regina von Linsingen, conta que a exposição e o faceamento dos produtos são uma prioridade na gestão do ponto de venda, sobretudo após a aprovação da RDC 44/09. “Precisamos ajudar o consumidor a selecionar os produtos de seu interesse e isso deve ser administrado pela equipe de trade”, diz. Além disso, o Herbarium vê na exportação uma grande oportunidade de negócios. “Não de plantas in natura, mas de produtos tecnologicamente superiores.” (L.F.)
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